segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Talvez Freud explique


Este gosto que eu tenho de me perder por entre a multidão.De calcorrear as ruas, de andar nos transportes públicos (sim mesmo correndo o risco de apanhar a Gripe A). Gosto das primeiras horas da manhã quando as pessoas se dirigem para o seu emprego, gosto do anoitecer quando as luzes se acendem. Gosto de me perder no meio das pessoas, olhar os seus rostos e tentar adivinhar as suas vidas! Aquele casal, será tão feliz, como aparenta? Aquele homem é realmente assim tão sisudo ou sabe ser interessante, contar uma boa história, dar uma boa gargalhada.É uma qualidade que eu aprecio: que me façam rir, não o fazer palhaçada,mas aquele humor inteligente, dito na altura apropriada.Provavelmente, não me faço entender, nem eu própria me entendo hoje,mas estou assim: fim-de-semana grande, Lisboa, os amigos à espera, mas apeteceu-me perder,porque é segunda-feira e nem toda a gente fez "ponte"como eu.Andei de eléctrico, fui até aos Jerónimos, de manhã, a maioria das pessoas com o ar de que "graças a Deus, amanhã é feriado", outros com ar de quem deveria ter ficado em casa.Vim a pé até à Junqueira, adoro aquelas ruas, aqueles antigos palacetes, convidam-me a imaginar vidas passadas, as tristezas, as alegrias, os nascimentos, as mortes. Adorava entrar na maioria deles e vê-los por dentro.Apanhei o autocarro e desci no Cais do Sodré. Lá fui à Ribeira beber um Nespresso e comer uma léria(ai o meu colesterol). Pronto, mais uma confissão:sou gulosa e se forem doces conventuais, ainda por cima...Subi e desci aquelas ruelas, passei pela rua de S.Paulo, e subi até ao Largo de Camões, passei o resto da tarde com uns amigos e voltei para casa.Do terraço dos meus pais, quase um miradouro( se bem que ache que deveríamos dizer Miratejo, mas isso são outras histórias),vejo as luzes a acenderem,e imagino que naquele 1ºesq, do prédio amarelo vive uma família feliz, os filhos chegaram da escola e contam aos pais o seu dia, os pais também falam do seu trabalho,e então começam as tarefas normais. A mãe prepara o jantar, a filha mais velha põe a mesa o pai dá banho ao mais novo e veste-lhe o pijama.Nah, demasiado idílico. Do outro lado da rua vive aquela jovem de ar embirrantemente intelectual, aquela que entra no minimercado e nem Bom-dia diz, sempre de nariz empinado:é uma infeliz, não tem amigos, nunca recebe visitas,come refeições congeladas e passa a vida sózinha, ligada ao computador, a amigos distantes que não conhece,mas gosta de criticar, porque é esse o seu feitio, ou então que gosta de bajular, porque só assim consegue fazer amigos:à distância, sem ter que se dar, sem ter que confiar. Agora imagino que eu sou ela: também estou aqui a escrever, num acto tão solitário como andar perdida na multidão, também o estar aqui a relacionar-me com ninguém, faz com que não precise de me dar, que não precise de voltar a confiar.A única coisa que nos torna diferentes é o eu gostar de sorrir e de dizer Bom-dia, no Minimercado,mesmo que não conheça D.Maria.

8 comentários:

  1. O Freud não precisa de explicar... é humano!
    Não concordo nada com esse "a relacionar-me com ninguém...", então eu o que sou?! Ninguém?! Hum!... estou a brincar, percebi perfeitamente o que querias dizer.

    :)

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  2. Ainda bem que percebeste, acho que és importante, mas penso que somos parte de um enorme todo anónimo. Ai, agora é que me perdi, e eu que nunca fui dada às filosofias.

    :)

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  3. Desculpa só cá chegar agora...

    Sabes que todas as personagens imaginadas por ti são verdadeiras.

    As tristes, as contentes e mesmo aquela família idílica,existem.

    Não metas o Freud nisto, as pessoas são o que querem ser a cada momento, tu decidiste ter aquele dia assim, “especial” porque resulta da tua escolha, outras pessoas terão escolhido, consciente ou inconscientemente, outras vivencias, outro tipo de dia, outras escolhas.

    E como te entendo, eu que adoro ver pessoas, fotografa-las para, quem sabe, mais tarde fazer os meus ”filmes”.

    Este post e muito verdadeiro, sente-se…

    Carinho para ti, que nunca estarás solitária aqui no blog, a Pronúncia tem toda a razão!

    :)

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  4. O importante é chegares: mostra que queres vir. Por vezes a solidão faz-nos falta, mas o homem é mesmo um animal social, não é? Agradeço a companhia. Nestas últimas semanas a corrida contra o tempo, tem-me deixado de rastos. Não faltam as ideias mas, por vezes, o cansaço é tanto que não consigo organizá-las.Talvez consiga parar mais um bocado daqui a umas semanas, 2 anos sem férias, o corpito acusa :) bjs.

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  5. Gostei imenso do texto, nestes textos nuna sei ao certo onde começa a ficção e acaba a realidade o Freud que explique. E não, não estás só.

    beijo

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  6. Obrigada, Forte, vocês não imaginam o quanto fico grata por este "não estar só", especialmente hoje que a dor é maior que o mundo. Bjs.

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  7. E neste dia difícil, tal como nos outros, nós estamos aqui, e mais, estou aqui porque não posso estar aí.
    Se soubesse "onde era aí", era bem capaz de estar aí e dar-te um beijo e carinho.

    :)

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  8. Aqui, pode ser longe, mas neste momento fez-se perto,pelo teu beijo e pelo teu carinho,um obrigada, cá do fundo.Espero um dia ser verdadeiramente livre de amarras para poder dizer onde é aqui e quiçá ainda fazer-mos uma petiscada todos, ou qq outra coisa para comemorar o fim da minha prisão.
    E do longe se fez perto.Bjs.

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